Caros filhos,
eis chegado o tempo tão importante e solene que, conforme diz o Espírito Santo,
é o momento favorável, o dia da salvação (cf. 2Cor 6,2), da paz e da
reconciliação. É o tempo que outrora os patriarcas e profetas tão ardentemente
desejaram com seus anseios e suspiros; o tempo que o justo Simeão finalmente
pôde ver cheio de alegria, tempo celebrado sempre com solenidade pela Igreja, e
que também deve ser constantemente vivido com fervor, louvando e agradecendo ao
Pai eterno pela misericórdia que nos revelou nesse mistério. Em seu imenso amor
por nós, pecadores, o Pai enviou seu Filho único a fim de libertar-nos da
tirania e do poder do demônio, convidar-nos para o céu, revelar-nos os
mistérios do seu reino celeste, mostrar-nos a luz da verdade, ensinar-nos a
honestidade dos costumes, comunicar-nos os germes das virtudes, enriquecer-nos
com os tesouros da sua graça e, enfim, adotar-nos como seus filhos e herdeiros
da vida eterna.
Celebrando cada
ano este mistério, a Igreja nos exorta a renovar continuamente a lembrança de
tão grande amor de Deus para conosco. Ensina-nos também que a vinda de Cristo
não foi proveitosa apenas para os seus contemporâneos, mas que a sua eficácia é
comunicada a todos nós se, mediante a fé e os sacramentos, quisermos receber a
graça que ele nos prometeu, e orientar nossa vida de acordo com os seus
ensinamentos.
A Igreja deseja
ainda ardentemente fazer-nos compreender que o Cristo, assim como veio uma só
vez a este mundo, revestido da nossa carne, também está disposto a vir de novo,
a qualquer momento, para habitar espiritualmente em nossos corações com a
profusão de suas graças, se não opusermos resistência.
Por isso, a
Igreja, como mãe amantíssima e cheia de zelo pela nossa salvação, nos ensina
durante este tempo, com diversas celebrações, com hinos, cânticos e outras
palavras do Espírito Santo, como receber convenientemente e de coração
agradecido este imenso benefício e a enriquecer-nos com seus frutos, de modo
que nos preparemos para a chegada de Cristo nosso Senhor com tanta solicitude
como se ele estivesse para vir novamente ao mundo. É com esta diligência e
esperança que os patriarcas do Antigo Testamento nos ensinaram, tanto em
palavras como em exemplos, a preparar a sua vinda.
Das Cartas
Pastorais de São Carlos Borromeu, bispo (Séc. XVI)
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