Houve um tempo em que nossa Igreja era reconhecida como
uma Igreja profética, uma Igreja portadora de vozes proféticas.
Essa Igreja profética parece ter dado lugar hoje a uma
Igreja um tanto tímida e insegura diante da realidade
sócio-político-econômico-religiosa em que vivemos. Mas essa ausência de
profetismo não se faz sentir somente em nossa Igreja. Ela parece ser a marca do
nosso tempo, um tempo em que os grandes sonhos e as grandes esperanças de
transformação social deram lugar à mera luta pela sobrevivência e à busca
individual de bem estar.
Seja como for, os textos bíblicos da liturgia de hoje nos
falam da importância do profeta na Igreja e na sociedade.
Quando olhamos nossa vida a partir da vocação profética,
nos damos conta de que o lugar em que nos encontramos não é acidental, mas
providencial: Deus nos colocou ali para sermos uma presença profética, para
reconduzir a Ele pessoas que se afastaram do bem, da verdade e da justiça. Assim
como fez com Ezequiel.
Enquanto muitas pessoas hoje abandonam a verdade e se
rodeiam de falsos profetas que falam somente o que elas gostam de ouvir, a
palavra profética nos coloca diante da verdade, a verdade que não gostamos de
ouvir, mas que precisamos ouvir se queremos ser libertos e salvos.
É mesmo de admirar como a nossa geração se melindra e se
sente ofendida quando escuta a verdade. É mesmo de admirar como facilmente
‘deletamos’ dos nossos contatos toda pessoa que fala aquilo que não queremos
ouvir. É mesmo de admirar como a nossa fé é feita de caprichos e resiste a
mudanças e questionamentos. É mesmo de admirar como não falamos a verdade para
as pessoas porque não queremos magoá-las e, consequentemente, correr o risco de
perder o afeto delas. É mesmo de admirar como nossa palavra não tem
credibilidade, porque nós somos os primeiros a não sustentá-la diante de uma
crítica ou de uma rejeição ao que dissemos. Enfim, é mesmo de admirar que para
nós seja mais importante ter a aprovação das pessoas do que a aprovação de
Deus, o Deus da verdade, cuja Palavra é a única fonte de salvação.
Além disso, Paulo entendeu que Deus escolheu não anular
as fraquezas humanas do profeta porque Ele sabe que, pior do que as fraquezas e
ambiguidades humanas, aquilo que mais faz mal ao profeta é o risco da
presunção, o risco da arrogância, da autossuficiência, do achar-se pronto (cf.
2Cor 12,7).
Como Paulo acabou de testemunhar, Deus escolheu revelar a
Sua força através da fraqueza do profeta (cf. 2Cor 12,9).
(por Márcio Neves-Pascom)
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