Como o próprio Papa Francisco já disse, se
alguém morre de fome, ninguém se importa com isso, mas se a Bolsa de Valores
cai três ou quatro pontos, o mercado financeiro e a sociedade entram em pânico.
Em nosso País, ultimamente, as notícias não
têm sido boas. Além dos escândalos de corrupção, que se multiplicam, as más
notícias vêm do campo da economia, o que neste domingo levará muitas pessoas às
ruas para protestarem contra o atual governo. Mas exatamente hoje, no contexto
em que estamos vivendo, a Palavra de Deus nos leva a refletir sobre a causa das
más notícias. Fazendo uma releitura da história de Israel – particularmente, da
sua capital Jerusalém – o autor do Livro das Crônicas coloca o dedo na ferida e
aponta a causa da destruição de Jerusalém: eles “multiplicaram suas
infidelidades” (2Cr 36,14).
Não é exatamente isso que acontece não só
com o Brasil, mas com o mundo? Infidelidade. Infidelidade com a própria
consciência e com Deus; infidelidade com a família e com a maneira de exercer a
profissão; infidelidade com os bens públicos e com a forma como se lida com o
dinheiro... Nós também vivemos hoje uma época de multiplicação de
infidelidades, de tal forma que constatamos o mesmo que o autor das Crônicas:
não há mais remédio (cf. 2Cr 36,16). Nossas infidelidades pessoais têm
consequências sociais: “Os inimigos incendiaram a casa de Deus e deitaram
abaixo os muros de Jerusalém, atearam fogo a todas as construções fortificadas
e destruíram tudo o que havia de mais precioso” (2Cr 36,19).
Você reconhece imagens hoje? Casa de Deus
incendiada: perseguição religiosa (Oriente Médio), perda de fé em Deus e perda
de confiança em si mesmo e no ser humano. Muros abaixo: cidades desprotegidas,
vidas expostas à violência (tráfico de drogas, roubos seguidos de morte,
agressão no trânsito, violência sexual etc.). Construções fortificadas
incendiadas: ninguém escapa da violência, da degradação moral e das
consequências da corrupção. Destruição de tudo o que há de mais precioso:
família, consciência moral, ética, a política como cuidado com o bem comum, fé
(corrupção em diversas igrejas; líderes religiosos infiltrados na política para
beneficiar os interesses de suas igrejas e não os da sociedade), justiça, paz,
esperança etc.
Assim como Israel foi responsável pelos seus
dias de desolação na Babilônia (70 anos!), assim nós precisamos nos perguntar
qual está sendo nossa parcela de responsabilidade na desolação em que nos
sentimos tantas vezes. Conforme nos mostrou o Salmo 137,4-6, somente uma coisa
ajudou Israel a sobreviver à desolação (Exílio): sua fé, sua confiança de que
Deus não havia se esquecido dele. Assim também, o apóstolo Paulo vem hoje nos
lembrar que o nosso “Deus é rico em misericórdia... Quando estávamos mortos por
causa de nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo” (Ef 2,4-5). Quando
pensamos que não há mais remédio que possa nos curar dos males que se abatem
sobre a humanidade, Jesus afirma que Ele foi levantado numa cruz, “para que
todos os que nele crerem tenham a vida eterna” (Jo 3,15).
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