A tradição litúrgica
cristã legou-nos o costume de celebrar praticamente juntas a memória dos fiéis
defuntos e a solenidade de todos os santos e santas. Há lugares em que o acento
recai sobre a celebração do dia primeiro de novembro, solenidade de todos os
santos; outros há, como no caso do Brasil, em que a centralidade é posta no dia
de Finados, 2 de novembro, data em que se celebra a memória de todos os fiéis
defuntos. Importante é não perder de vista a íntima relação que existe entre
ambas as recorrências. Vigora, entre elas, uma sadia reciprocidade, posto que,
só se celebra, de fato, com sentido a memória viva dos fiéis defuntos, tendo
como pressuposta a fé na comunhão dos santos.
O Concílio Vaticano II
(1962-1965), em sua Constituição Dogmática sobre a Igreja, intitulada Lumen
Gentium, recuperou-nos a fé na comunhão dos santos, salientando sua
imprescindibilidade no tocante à eclesiologia de comunhão, nota distintiva da
Igreja de Jesus Cristo. Com efeito, a comunhão que nos foi oferecida
gratuitamente por Jesus Cristo, e que culminou em seu mistério pascal,
alcança-nos com tamanha intensidade capaz de abraçar a totalidade dos seres
humanos para além de toda e qualquer separação, indo além inclusive dos abismos
mais obscuros da morte. Por isso o referido texto conciliar fala da comunhão
dos santos que se revela na efetiva comunhão entre a igreja ainda peregrina
neste mundo e a igreja triunfante, ou seja, a comunidade daqueles e daquelas
que nos precederam na morte e que gozam, já no presente momento, da plenitude
da vida junto do Pai.
Lemos em um dos prefácios
próprios da Missa dos fiéis defuntos: “Ó Pai, para os crêem em Vós, a vida não
é tirada; mas transformada. E desfeita esta nossa habitação terrestre, nos é
dado nos céus, um corpo imperecível”. Essa é propriamente a esperança que
sustenta as comunidades eclesiais ao longo de seu sinuoso itinerário histórico.
Por essa razão, fazemos memória de nossos irmãos e irmãs defuntos e não apenas
nos limitamos a recordar-lhes ou a simplesmente lembrar-se saudosamente deles.
A vida deles e delas foi transformada, não lhes foi tirada. O fato que eles não
participem mais do nosso convívio histórico, fisicamente, não significa que a
vida deles foi extinta. Eles vivem junto de Deus e, portanto, podem ser
experimentados como estando mais próximos ainda de nós. Pois, nossa fé nos diz
que morremos para ressuscitar e não vivemos para morrer, como insistem alguns.
colaboração: Márcio Neves(Pastoral da Comunicação)
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