Hoje, ao celebrarmos Jesus Cristo Rei do universo,
precisamos nos perguntar: quem nós queremos que reine sobre nós? Por quem ou
pelo que nós nos deixamos dominar? Na Bíblia, o rei é aquele que tem a
responsabilidade de proteger o povo e cuidar para que haja justiça e paz entre
os homens. Nós nos sentimos protegidos por aqueles que nos governam? Eles têm
ajudado nosso mundo a encontrar o caminho da justiça e da paz? De que maneira
nós podemos entender Jesus Cristo como Rei?
Certa vez, depois que Jesus saciou a multidão faminta no deserto, o povo quis
fazê-lo rei, mas Jesus se retirou do meio deles (cf. Jo 6,15). Por quê? Porque
Jesus nunca aceitou fazer o papel de solucionador mágico dos nossos problemas.
O papel do rei não é oferecer “pão e circo” (comida e diversão) ao povo, coisa
que a maioria dos nossos políticos sabe fazer muito bem e o nosso povo gosta –
se não fosse assim, não elegeria tais políticos. O domínio que Jesus quis
exercer sobre nós a partir da cruz foi um domínio que nos liberta do poder do
mal, um domínio que nos devolve a nós mesmos e nos faz tomar nas mãos as rédeas
da nossa vida, muitas vezes confiadas às mãos de pessoas e situações que nos
fazem mal.
Portanto, se você é o tipo de pessoa que, ao invés de assumir a
responsabilidade pela sua vida, vive procurando “reis”, pessoas que te
governem, que te sustentem, que te carreguem no colo quando você tem duas
pernas saudáveis e pode andar por si mesmo, pessoas que decidam por você porque
lhe falta força de vontade e coragem para fazê-lo, desista de querer eleger
Jesus como seu rei particular. Não foi para isso que ele veio e não é esse tipo
de reinado que ele exerce.
Todo rei tem um trono, o lugar a partir de onde ele exerce o seu poder, o seu
domínio. Mas eis a grande contradição! O trono de Jesus foi a cruz, um trono
tão estranho, um lugar tão desprovido de poder, que aqueles que passavam diante
desse “trono” gritavam: “Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!” (Lc 23,37).
“Salva-te a ti mesmo e a nós!” (Lc 23,39). Eis a nossa grande dificuldade em
crer no domínio de Jesus sobre o mundo. Se ele é, de fato, Rei, como entender
que o nosso mundo esteja tão dominado pelo mal e pela injustiça? Uma explicação
possível para isso é que aqueles que praticam o mal e a injustiça não estão
debaixo do domínio de Jesus e sim do maligno. Mas esta explicação basta?
Um dos homens que estava crucificado com Jesus lhe fez este pedido: “Jesus,
lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado” (Lc 23,42). Este homem nos
ensina que a cruz que carregamos não é a prova de que Jesus é um rei fracassado
e seu domínio é totalmente incapaz de nos libertar do mal. Mesmo na cruz, mesmo
na dor nós podemos escolher às mãos de quem confiar a nossa existência: se às
mãos de reis ilusórios, que nos prometem uma vida de sucesso e de vitória, ou
se ao verdadeiro rei, ao único que pode nos fazer esta promessa: “Ainda hoje
estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43).
Jesus é Rei porque o Pai lhe confiou o poder, o domínio salvífico sobre todo
ser humano (cf. Jo 17,2), e somente ele pode nos reintroduzir no Paraíso;
somente ele pode restabelecer a plena comunhão do homem com Deus, consigo
mesmo, com seu semelhante e com a natureza. Assim também, só pode experimentar
o Paraíso quem decide viver sob a autoridade de Jesus, quem aceita livremente
submeter-se ao domínio do Espírito Santo, quem permite que o Pai o liberte do
poder das trevas e o receba no reino de seu Filho amado, por quem temos a redenção,
o perdão dos pecados (cf. Cl 1,13-14).
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