
A missão principal da Igreja é a evangelização dos
pobres. No entanto, em muitas situações, a evangelização tem sido praticada a
partir da opção pelos ricos e seus interesses. Sua mensagem e estrutura têm
sido configuradas a partir dos poderosos. A suntuosidade clerical imita o luxo
da realeza medieval. Neste modelo, os ricos têm toda a preeminência. Igreja de
ricos que pratica caridade assistencial aos pobres. Defensores da vida,
ocupados em condenar o aborto, mas totalmente alheios às milhares de vidas humanas
abortadas pelo flagelo da fome, da miséria, da violência, da opressão, do
desemprego, do tráfico de pessoas, da escravidão. “A pobreza é fruto da
injustiça social, da miséria moral, da avidez de poucos e da indiferença
generalizada”!
Como é possível que uma fé que, desde o Antigo Testamento
trazia uma carga profética a favor dos oprimidos e que em Jesus de Nazaré se
converteu em manifestação explícita em favor dos pobres, possa ser reduzida a
sustento ideológico dos ricos? Como uma mensagem subversiva foi transformada em
respaldo divino da ordem estabelecida?
Em preparação ao Dia Mundial dos Pobres (19), o Papa
Francisco, em Mensagem publicada para a ocasião, exorta: “Quem pretende amar
como Jesus amou, deve assumir o seu exemplo, sobretudo no amor os pobres.
Enquanto sobressai cada vez mais a riqueza descarada que se acumula nas mãos de
poucos privilegiados, frequentemente acompanhada pela ilegalidade e a
exploração ofensiva da dignidade humana, causa escândalo a extensão da pobreza
a grandes setores da sociedade no mundo inteiro. Perante este cenário, não se
pode permanecer inerte e, menos ainda, resignado”.
A imensa maioria da humanidade vive não só na pobreza,
mas, também, na mais absoluta miséria. Essa situação, em grande parte, é
provocada por um sistema julgado como pecado, porque nenhum outro mal é mais
nocivo aos seres humanos. É a negação maior da vontade de Deus. “Eu, o Senhor,
que sou o primeiro, estou com os últimos” (Is 41,4). Falsificar essa imagem de
Deus é a pior das heresias.
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