"A tecnologia vive um extraordinário avanço, mas é na família que se deve dar a educação de valores."
Para celebrar o
49º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que neste ano ocorreu no dia 17 de
maio, o papa Francisco escolheu o tema: "Comunicar a família: ambiente
privilegiado do amor". Em sua mensagem, o papa destaca que a família é
"o espaço onde se aprende a conviver na diferença”, citando algo que já
havia dito na sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (EG 66). Escolhendo
este tema da família para tratar das comunicações sociais, chama à atenção para
dois grandes momentos da Igreja nos dias atuais: o Sínodo celebrado em outubro
de 2014 e o Sínodo que acontecerá em outubro de 2015, ambos destinados a
refletir sobre a família nos tempos modernos.
Normalmente se
refere hoje à família como uma instituição em crise, e alguns são derrotistas
quando tratam deste tema. Porém a família é algo natural e não artificial, e
por isso não pode ser contemplada apenas como um problema, mas como base de
quase tudo na convivência humana. É na família que se dá o início de toda
comunicação.
As palavras,
elementos fundamentais para a comunicação, não são inventadas por nós: já as
encontramos em criança quando começamos a aprender a falar. Toda pessoa humana
nasce numa comunidade que se comunica através do idioma materno que marca de
forma singular a vida e a maneira de se comunicar por toda a nossa existência.
Por mais que aprendamos a nos comunicar em outros idiomas, a língua materna
será sempre o ponto central, a forma privilegiada, a maneira básica, conatural
para a comunicação de cada pessoa. Prova disto é a diferença emocional quando,
estando longe, em outro país, falando cotidianamente outro idioma que não o
nosso, ao ouvirmos alguém, que se dirige a nós, falando nossa língua materna,
com o sotaque próprio de onde fomos criados, a comunicação se dá de forma
imediata e muitas vezes mais inteligível.
Porém o papa
chama à atenção para a família como primeiro lugar da comunicação, demonstrando
que até mesmo antes de nascermos já estamos num processo comunicativo. A mãe se
comunica com o filho quando este ainda está na fase intrauterina e as emoções
positivas ou negativas dadas nesta ocasião, terão influência direta sobre a
criança que ainda está para nascer. Deste ambiente familiar, a pessoa terá
marcas para todo seu futuro. Daí a importância de se cultivar na família os
valores positivos do amor, da misericórdia, do perdão, da paz, da caridade, da
paciência, da justiça, e os valores religiosos da oração, do amor primordial a
Deus, da celebração e da prática das virtudes.
Para
exemplificar, o papa Francisco propõe à reflexão, o encontro de Maria, no
começo de sua gravidez, ao visitar a sua prima Isabel, também grávida, no sexto
mês, quando a criança lhe estremeceu de alegria no ventre ao ouvir a voz da mãe
de Jesus (Cf. Lucas, 1, 39-56). As mães se comunicam, os filhos participam de
suas comunicações! “Bendita és tu, entre as mulheres e bendito é o fruto de teu
ventre”, exclamou Isabel a Maria ao sentir os efeitos tão belos daquele
momento.
“A família mais
bela, protagonista e não problema, é aquela que partindo do testemunho, sabe
comunicar a beleza e a riqueza do relacionamento entre o homem e a mulher,
entre pais e filhos”, afirma o papa Francisco em sua mensagem para o presente
Dia Mundial das Comunicações.
O mundo de hoje
experimenta um extraordinário avanço tecnológico no campo das comunicações.
Alcançamos um patamar imensamente superior aos nossos antepassados no que diz
respeito a aparelhos, instrumentos e técnicas de comunicação. Porém, técnicas e
instrumentos serão sempre ambíguos; poderão ser utilizados para o bem ou para o
mal, para semear a paz ou espalhar o ódio e a violência. A educação para os
valores deve se dar na família onde, desde pequenos, os filhos devem aprender a
discernir entre o bem e o mal. Lá se formarão os comunicadores que vão colocar
sua profissão unicamente a serviço do bem comum ou não, dependendo de como
receberam as primeiras comunicações em sua casa.
CNBB,
18-05-2015.
*Dom
Gil Antônio Moreira é arcebispo de Juiz de Fora (MG).
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