O Vaticano denuncia num novo documento sobre a Amazônia a
exploração levada a cabo por “interesses econômicos” que ameaçam a natureza e
os direitos dos povos indígenas.
“A riqueza da selva e dos rios da Amazônia está ameaçada
pelos grandes interesses econômicos que se alastram sobre diferentes regiões do
território. Tais interesses provocam, entre outras coisas, a intensificação do
desmatamento indiscriminado na selva, a contaminação dos rios, lagos e
afluentes”, assinala o texto preparatório da assembleia especial do Sínodo dos
Bispos sobre a Amazônia, que o Papa convocou para 2019.
O texto, divulgado na manhã desta sexta-feira (08) pela
sala de imprensa da Santa Sé, defende que este Sínodo especial deve “encontrar
novos caminhos para fazer crescer o rosto amazônico da Igreja e também para
responder às situações de injustiça da região”.
Entre as situações denunciadas elenca-se o
“neocolonialismo configurado pelas indústrias extrativistas, pelos projetos de
infraestrutura que destroem sua biodiversidade e pela imposição de modelos
culturais e económicos estranhos à vida dos povos.
A assembleia de bispos foi anunciada pelo Papa a 15 de
outubro de 2017 e vai refletir sobre o tema ‘Novos caminhos para a Igreja e
para uma ecologia integral se realizará em outubro de 2019’.
“As relações harmoniosas entre o Deus Criador, os seres
humanos e a natureza estão quebradas por causa dos efeitos nocivos do
neoextrativismo e por pressão dos grandes interesses económicos que exploram o
petróleo, o gás, a madeira, o ouro, e pela construção de obras de
infraestrutura e pelas monoculturas agroindustriais”.
O documento do Vaticano alerta para as consequências da
“cultura dominante de consumo e descarte” sobre a natureza, que tem gerado uma
“profunda crise”.
A Igreja Católica atua na região através da Rede Eclesial
Pan-Amazônica, REPAM, que inclui representantes de comunidades católicas de
nove territórios: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana-Francesa,
Peru, Suriname e Venezuela.
“A Amazônia, uma região com rica biodiversidade, é
multiétnica, pluricultural e plurirreligiosa, um espelho de toda a humanidade
que, em defesa da vida, exige mudanças estruturais e pessoais de todos os seres
humanos, dos Estados e da Igreja”, assinala o texto preparatório do Sínodo de
2019.
A bacia amazônica é apresentada como uma das “maiores
reservas de biodiversidade” do planeta, cujos povos são hoje marcados pela
“pobreza produzida ao largo da história” e da “mudança de valores decorrentes
da economia mundial, na qual prevalece o valor lucrativo sobre a dignidade
humana”.
“Um exemplo disso é o crescimento dramático do tráfico de
pessoas, especialmente o de mulheres, para fins de exploração sexual e comercial”,
assinala a Santa Sé.
O documento alude ainda à necessidade de “regularização
de terras e do reconhecimento de sua propriedade ancestral e coletiva” por
parte dos povos indígenas na Pan-Amazônia.
“Proteger os povos indígenas e seus territórios é uma exigência
ética fundamental e um compromisso básico dos direitos humanos”, sustenta o
Vaticano.
O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais,
como uma assembleia consultiva de representantes dos episcopados católicos de
todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar
o Papa no governo da Igreja.
Até hoje houve 14 assembleias gerais ordinárias e três
extraordinárias, as últimas das quais dedicadas à Família (2014 e 2015); em
outubro, o Vaticano recebe uma assembleia ordinária do Sínodo, sobre os jovens.
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