“Quem é você?... O que você diz de si mesmo?” (Jo 1,19.22).

Antes de João Batista ser questionado sobre a sua
identidade, uma afirmação bíblica foi feita a respeito dele: “um homem enviado
por Deus” (Jo 1,6). Esta afirmação diz que a nossa existência não é fruto do
acaso. Você e eu existimos porque fomos enviados por Deus. Mas, enviados para
quê? “Ele veio... para dar testemunho da luz, para que todos chegassem à fé por
meio dele” (Jo 1,7). Cada um de nós é único e está no mundo para ser um sinal
único que aponta para a luz, que é Cristo, para que as outras pessoas que
convivem conosco possam se encontrar com a Verdade, que é o próprio Cristo,
Verdade que liberta o ser humano das mentiras do mundo e do seu próprio
autoengano: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8,32).
Se, por acaso, neste momento você se pergunta: ‘Por
que estou aqui, nesta casa, neste local de trabalho, nesta escola ou faculdade,
nesta cidade etc.?’ lembre-se: é para que as pessoas que convivem com você
possam chegar à fé, possam encontrar-se com a verdade de Cristo que liberta da
mentira e do autoengano, e faz com que cada ser humano aproxime-se da sua
verdadeira essência.
Antes de responder quem ele era, João precisou
tomar consciência de quem ele não era: “Eu não sou o Messias” (Jo 1,20). Quantos
de nós desconhecemos nossa própria essência, e nos vemos a partir dos olhos dos
outros: dos pais, dos amigos, do pregador, da mídia etc.? Quantos têm uma
imagem distorcida de si, ou no sentido de engrandecer-se, ou no sentido de
diminuir-se? Quantos se definem a partir de um aspecto da vida, sem considerar
o todo? Nós começamos a descobrir nossa verdadeira identidade quando começamos
a ter coragem de questionar a ideia errada que temos de nós mesmos, ou que os
outros sempre tiveram de nós: ‘Eu sou o que eu quero ser ou sou o que os outros
querem que eu seja?’ ‘O que determina o rumo da minha vida é o meu passado ou
as escolhas que eu faço no meu presente?’ ‘Eu sou doente ou estou doente?’
‘Eu sou uma pessoa problemática ou estou com problemas,
com os quais preciso lidar?’.
“O que você diz de si mesmo(a)?” A nossa cura, a
nossa libertação, a nossa paz e a nossa alegria dependem da resposta a esta
pergunta tão fundamental, pergunta que nos amedronta e diante da qual fazemos
de tudo para não nos colocar... Mas esta pergunta quer apenas nos ajudar a dar
passos na direção da nossa verdadeira essência. Talvez você se pergunte: ‘Qual
é a minha essência?’ ‘Qual é a minha verdade?’ A resposta está aqui: quanto
mais você se sente alegre e em paz com as suas atitudes e com as suas escolhas,
mais você está próximo(a) da sua essência, da sua verdade.
João entendeu qual era a sua essência, a sua
verdade: “Eu sou a voz...”. Ser voz é ser canal para que a Palavra possa chegar
aos ouvidos e ao coração dos que precisam ouvi-La. Jesus é, por excelência, o
Enviado do Pai, o Ungido do Senhor, Aquele que veio trazer “a boa notícia aos
humildes, curar as feridas da alma, pregar a redenção para os cativos e a
liberdade para os que estão presos” (Is 61,1). Mas você e eu somos cristãos,
ungidos pelo mesmo espírito de Cristo. Apesar das nossas imperfeições,
precisamos fazer o que está ao nosso alcance para que as pessoas cheguem à fé
por meio de nós (cf. Jo 1,7).
Terminemos esta reflexão considerando alguns apelos
do apóstolo Paulo para nós: “Não apagueis o espírito!” (1Ts 5,19). O Espírito
de Deus é o “Espírito da Verdade” (Jo 14,17; 15,26; 16,13). Não apagá-Lo
significa não nos afastar da nossa verdade, por mais que nos custe permanecer
nela. Não apagar o espírito significa também não esfriar em nossa vida de
oração. “Examinai tudo e guardai o que for bom” (1Ts 5,21). A Verdade do
Espírito deve ser o critério para nos guiar em nossas escolhas e decisões, a
fim de nos mantermos fiéis à nossa essência. “Afastai-vos de toda espécie de
maldade!” (1Ts 5,22), não apenas daquilo que é mal aos nossos olhos, mas
sobretudo daquilo que é mal aos olhos de Deus. “(...) que tudo aquilo que sois
– espírito, alma, corpo – seja conservado sem mancha alguma para a vinda de
nosso Senhor Jesus Cristo!” (1Ts 5,23). Que todo o nosso ser permita-se ser
curado, redimido e liberto pelo Espírito de Deus, a fim de irradiarmos a luz da
sua Verdade aos que convivem conosco.
(Missa do 3º. dom. do advento. Palavra de Deus:
Isaías 61,1-2a.10-11; 1Tessalonicenses 5,16-24; João 1,6-8.19-28.)
dos escritos de Pe. Paulo Cezar Mazzi
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