A Igreja "não é apenas de justos e santos, mas dos pobres e pecadores em busca de perdão".
Para quem esperava mudanças retumbantes e todas as
permissões havidas e por haver, talvez o final do Sínodo e seu documento de
conclusões represente uma decepção. No entanto, para quem conhece um
pouco da Igreja, há muitas razões para alegria e, sobretudo, esperança.
Portas foram abertas, suavemente, discretamente. E o Papa testemunhou que
pretendia entrar por elas.
Havia duas grandes expectativas neste Sínodo: uma em relação a um avanço concreto sobre a visão das relações homoafetivas. As bombásticas declarações do monsenhor polonês Charamsa, na véspera do Sínodo, não ajudaram. Pelo contrário, a meu ver atrapalharam bastante. Sem querer emitir nenhum julgamento sobre sua pessoa, esse gênero de confrontações diretas não funciona em termos eclesiais. Endurecem-se ainda mais as posições e agudizam-se as polarizações. E foi o que parece haver acontecido.
Em todo caso, no documento conclusivo é reafirmado claramente o princípio da misericórdia que afirma que "toda pessoa, independentemente da própria tendência sexual, seja respeitada em sua dignidade e acolhida com respeito, a fim de evitar "qualquer marca de injusta discriminação" (n. 76). Apesar de negar enfaticamente qualquer abertura ao matrimônio homossexual reconhecido pela Igreja Católica, permanece a abertura para o acolhimento daqueles e daquelas que até bem pouco tempo eram severamente marginalizados na vida eclesial.
Já com a segunda grande expectativa – a admissão à plenitude da vida eclesial aos casais divorciados e recasados – creio que houve um maior avanço. A questão é posta sob o signo do discernimento. Há um convite aos pastores em todos os níveis – padres, bispos e outros – devem ser "mais integrados na comunidade cristã nos diversos modos possíveis". A razão é simples e cristalina: "são batizados, são irmãos e irmãs, o Espírito Santo derrama sobre eles dons e carismas para o bem de todos" (n. 84).
Havia duas grandes expectativas neste Sínodo: uma em relação a um avanço concreto sobre a visão das relações homoafetivas. As bombásticas declarações do monsenhor polonês Charamsa, na véspera do Sínodo, não ajudaram. Pelo contrário, a meu ver atrapalharam bastante. Sem querer emitir nenhum julgamento sobre sua pessoa, esse gênero de confrontações diretas não funciona em termos eclesiais. Endurecem-se ainda mais as posições e agudizam-se as polarizações. E foi o que parece haver acontecido.
Em todo caso, no documento conclusivo é reafirmado claramente o princípio da misericórdia que afirma que "toda pessoa, independentemente da própria tendência sexual, seja respeitada em sua dignidade e acolhida com respeito, a fim de evitar "qualquer marca de injusta discriminação" (n. 76). Apesar de negar enfaticamente qualquer abertura ao matrimônio homossexual reconhecido pela Igreja Católica, permanece a abertura para o acolhimento daqueles e daquelas que até bem pouco tempo eram severamente marginalizados na vida eclesial.
Já com a segunda grande expectativa – a admissão à plenitude da vida eclesial aos casais divorciados e recasados – creio que houve um maior avanço. A questão é posta sob o signo do discernimento. Há um convite aos pastores em todos os níveis – padres, bispos e outros – devem ser "mais integrados na comunidade cristã nos diversos modos possíveis". A razão é simples e cristalina: "são batizados, são irmãos e irmãs, o Espírito Santo derrama sobre eles dons e carismas para o bem de todos" (n. 84).
Finalmente, fiel à sua perspectiva sempre atenta ao contexto, relembra
que as culturas são diferentes em tudo, inclusive na concepção da moral.
Pois "o que parece normal para um bispo de um continente, pode resultar
estranho, quase um escândalo, para o bispo de outro continente... Em geral as
culturas são muito diferentes entre si e todo princípio geral necessita ser
inculturado se quer ser observado e aplicado".
Com chave de ouro fechou o Papa seu discurso, relembrando que "os
verdadeiros defensores da doutrina não são os que defendem a letra, mas o
espírito; não as ideias, mas o ser humano; não as fórmulas, mas a gratuidade do
amor de Deus e seu perdão". Pois – relembrou ainda, inspiradamente,
o Papa – "o primeiro dever da Igreja não é distribuir condenações ou
anátemas, mas proclamar a misericórdia de Deus, de chamar à conversão e de
conduzir todos os homens à salvação do Senhor".
Fiados e confiados nesta misericórdia que a todo pecado recobre e resgata, caminhamos enquanto comunidade eclesial para o tempo pós-sinodal, crendo firmemente que já é e será mais ainda um tempo de misericórdia e inclusão, e não de exclusão e rigidez.
Fiados e confiados nesta misericórdia que a todo pecado recobre e resgata, caminhamos enquanto comunidade eclesial para o tempo pós-sinodal, crendo firmemente que já é e será mais ainda um tempo de misericórdia e inclusão, e não de exclusão e rigidez.
Por: Maria Clara Bingemer é
teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da
PUC-Rio.
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